Depressão: impactos na memória e atenção
A depressão afeta de maneira significativa e complexa tanto a memória quanto a atenção. Essas alterações são frequentemente observadas em pacientes com depressão unipolar e podem ser mais pronunciadas em casos de depressão melancólica, persistindo inclusive de forma crônica, independentemente do grau do estado depressivo.
• Impacto na atenção:
◦ A depressão está associada a dificuldades de concentração e pode levar a desatenção e lentificação psicomotora.
◦ Pacientes com depressão podem apresentar déficits na atenção sustentada e dividida, além de ter problemas para manter o foco atencional por períodos prolongados.
◦ A atenção é a “porta de entrada” que permite que todos os outros processos cognitivos aconteçam, como aprender, fazer associações e interpretar informações. Portanto, um déficit atencional primário pode afetar outras funções cognitivas importantes, incluindo a memória.
◦ Fatores como fadiga, estresse e sono inadequado, comuns na depressão, também limitam a capacidade atencional.
◦ Neurobiologicamente, a depressão pode envolver um desequilíbrio entre as áreas pré-frontais do cérebro e o sistema límbico. Há relatos de fluxo sanguíneo diminuído e atividade metabólica reduzida nas regiões frontais em pacientes com depressão maior, o que pode explicar a lentificação psicomotora e a falta de espontaneidade. A atividade reduzida do córtex pré-frontal (hipofrontalidade) impacta funções executivas e a memória de trabalho, que são cruciais para a atenção.
• Impacto na memória:
◦ A depressão pode causar queixas subjetivas de memória. Frequentemente, essas queixas são mais influenciadas pelos sintomas de depressão e fadiga do que por um comprometimento cognitivo objetivo.
◦ Especificamente, a depressão unipolar está associada a prejuízos na memória verbal e não verbal.
◦ A memória operacional (working memory), que é fundamental para manter e manipular informações ativas, é frequentemente comprometida na depressão. Um estado de ânimo negativo, como a depressão, pode perturbar diretamente a memória de trabalho.
◦ Os pacientes podem ter déficits na codificação e, mais acentuadamente, na recuperação espontânea de informações.
◦ Níveis elevados de cortisol, liberados em resposta ao estresse exacerbado na depressão, podem prejudicar a formação da memória.
◦ A amígdala, estrutura cerebral envolvida no processamento emocional, mostra hiperatividade em pacientes depressivos, resultando em vieses cognitivos negativos e secreção de hormônios do estresse, o que pode influenciar negativamente a memória.
◦ A depressão pode ser um fator secundário para déficits de memória, dificultando a distinção entre um problema primário de memória e um secundário ao humor.
◦ Em idosos, a depressão geriátrica está associada a um aumento da suscetibilidade ao declínio cognitivo e síndromes demenciais, e o comprometimento da memória episódica pode dificultar a aplicação de protocolos de estimulação cognitiva.
A depressão não é apenas um estado de tristeza, mas um transtorno complexo que envolve uma série de alterações neurocognitivas, incluindo problemas marcantes na atenção e em diversos tipos de memória, como a verbal, não verbal e operacional. Essas dificuldades são explicadas por disfunções em circuitos cerebrais, como o desequilíbrio entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico, e pela modulação de hormônios do estresse. É fundamental considerar a presença de depressão ao avaliar problemas de memória e atenção, pois o tratamento adequado pode melhorar o funcionamento cognitivo e a qualidade de vida.
