A visão reducionista e deslegitimação dos sintomas
- Foco no diagnóstico formal: Muitos sistemas de saúde, seguros ou até políticas públicas de assistência exigem um laudo com um diagnóstico formal para oferecer qualquer tipo de suporte, seja ele psicológico, psiquiátrico ou mesmo médico. Sem um “código” oficial, como os do DSM ou da CID, o indivíduo pode ter dificuldades para justificar a necessidade de tratamento.
- Desvalorização de sintomas subclínicos: Há uma tendência de desconsiderar sintomas leves ou isolados como algo “não sério o suficiente”. Essa visão ignora o fato de que mesmo sintomas abaixo do limiar podem causar sofrimento significativo, impactar a qualidade de vida e ser precursores de quadros mais graves.
- Falta de educação sobre saúde mental: Muitas pessoas acreditam que só devem procurar ajuda se tiverem um diagnóstico formal, e os próprios profissionais, em alguns casos, priorizam o fechamento de diagnósticos em vez de acolher as queixas e trabalhar com elas de maneira preventiva e individualizada.
- Barreiras de acesso a serviços: Em alguns casos, a pessoa até busca ajuda, mas, ao não receber um laudo ou diagnóstico, sente-se perdida, desvalorizada ou até invalidada em seu sofrimento. Isso pode afastá-la de buscar novas alternativas de cuidado.
O que poderia ser feito de forma diferente?
- Tratamento baseado no sofrimento e na funcionalidade: O foco deveria estar no impacto que os sintomas têm na vida da pessoa, e não apenas em encaixá-los em critérios diagnósticos. Mesmo que não haja um laudo formal, intervenções baseadas em evidências, como psicoterapia e suporte psicoeducativo, podem ser oferecidas.
- Intervenção precoce: É fundamental entender que sintomas subclínicos ou manifestações que ainda não se consolidaram em um transtorno diagnosticável podem ser tratados preventivamente. Isso pode evitar o agravamento do quadro e melhorar a qualidade de vida rapidamente.
- Psicoeducação: Informar a pessoa de que ela não precisa de um diagnóstico fechado para buscar ajuda pode empoderá-la a buscar intervenções. Muitas vezes, as pessoas não entendem que sintomas isolados, como ansiedade leve, já são válidos para iniciar cuidados.
- Flexibilização de políticas de saúde: No nível institucional, seria importante flexibilizar os critérios para que pessoas com sintomas fora do diagnóstico formal também tenham acesso a tratamentos subsidiados ou programas de apoio.
A importância de acolher o sofrimento
Mesmo sem diagnóstico formal, o sofrimento psicológico é real e merece atenção. Afinal, a função da saúde mental não é apenas tratar doenças, mas promover qualidade de vida, bem-estar emocional e resiliência. Ignorar quem não “fecha o diagnóstico” significa correr o risco de deixar de ajudar muitas pessoas que poderiam se beneficiar de intervenções precoces, reduzindo sofrimento desnecessário.
Concluindo, um laudo ou diagnóstico não deveria ser um pré-requisito para o cuidado. A saúde mental precisa de uma abordagem mais humanizada e centrada na pessoa, priorizando o alívio do sofrimento e a melhoria da funcionalidade, independentemente de rótulos diagnósticos.

